O tetrahidrocanabinol (THC), ou mais corretamente o isómero mais abundante (-)-trans-∆9-tetrahidrocanabinol ((6aR, 10aR)-∆9-tetrahidrocanabinol) é o principal constituinte psicoactivo do canábis. Isolado pela primeira vez em 1964, pelos cientistas israelitas Raphael Mechoulam e Yechiel Gaoni, este composto sólido quando frio, com uma aparência vítrea límpida e transparente, que, quando aquecido, torna-se viscoso e pegajoso. Trata-se de uma terpenóide aromático, tendo uma solubilidade em água muito baixa, mas uma solubilidade relativamente elevada em solventes orgânicos, especialmente em lípidos e em álcoois.
O THC, cuja fórmula é C21H30O2, possui uma massa molar de 314,469 g / mol, um ponto de ebulição de 250ºC e um poder rotatório espacífico de -152º, em etanol. Trata-se de um composto que é metabolizado no fígado e possui um tempo de semivida de 1,6 a 59 horas.
Tal como a maioria dos metabolitos secundários das plantas com actividade farmacológica, pensa-se que o THC esteja envolvido na defesa das plantas, possivelmente contra herbívoros. Também possui uma alta absorção de radiação UVB (280 a 315 nm), pelo que esta propriedade do composto tem sido vista como um mecanismo de protecção da planta contra este tipo de radiação.
O THC tem efeito analgésico ligeiro a moderado, pelo que o canábis pode ser usado para tratar dores, alterando a libertação de transmissores no gânglio da raiz dorsal da espinal medula. Surte também outros efeitos, nomeadamente relaxamento, alteração das capacidades sensoriais (visão, audição e olfacto), fadiga e estimulação do apetite. Possui ainda propriedades antieméticas intensas.
O tetrahidrocanabinol, tal como outros canabinóides que possuem grupos fenol, possui propriedades antioxidantes suficientes para proteger os neurónios contra stress oxidativo, tal como o que é produzido pela excitotoxicidade induzida pelo glutamato.
Sabe-se que, nos humanos, o canábis estimula o apetite e o consumo de alimentos, provavelmente por actuação no eixo gastro-hipotalâmico. Um estudo em ratinhos sugerem que o canábis pode, não só estimular o apetite, como também aumentar o valor hedónico dos alimentos. Este estudo mostrou também que o consumo habitual de THC leva a uma diminuição deste efeito de aumento do prazer.
Existem 7 isómeros de cadeia dupla do THC: ∆6a,7-tetrahidrocanabinol; ∆7-tetrahidrocanabinol; ∆8-tetrahidrocanabinol; ∆9,11-tetrahidrocanabinol; ∆9-tetrahidrocanabinol; ∆10-tetrahidrocanabinol; ∆6a,10a-tetrahidrocanabinol. Existem também 4 estereoisómeros do THC: (-)-trans-∆9-tetrahidrocanabinol; (+)-trans-∆9-tetrahidrocanabinol; (-)-cis-∆9-tetrahidrocanabinol; (+)-cis-∆9-tetrahidrocanabinol.
Em Abril de 2014, a American Academy of Neurology publicou um artigo de revisão sobre a eficácia e a segurança da marijuana medicinal e de produtos derivados em certas doenças neurológicas. O artigo identifica 34 estudos, 8 dos quais foram classificados de qualidade classe I. Os estudos apresentam evidências que suportam a eficácia dos compostos extraídos do canábis no tratamento de certos sintomas de esclerose múltipla, mas não possui dados suficientes para a determinação da eficiência destes no tratamento de muitas outras doenças neurológicas.
Não existe nenhum registo de pacientes que tenham morrido única e exclusivamente de overdose de THC ou de outros compostos do canábis. No entanto, enúmeros relatórios sugerem uma associação do fumo do canábis com um risco aumentado de infarte do miocárdio. A informação acerca da toxicidade do THC é principalmente baseada nos resultados de estudos em animais. Esta depende da via de administração e do animal de laboratório utilizado nos estudos.
A dose letal estimada para a injecção intravenosa de dronabinol (análogo do THC) em humanos é de 30 mg / Kg, o que significa que a letalidade é pouco provável. A dose típica que é administrada é de duas cásulas de 2,5 mg, por dia, pelo que, para um indivíduo de 80 Kg ter uma overdose de THC, este teria que tomar uma dose equivalente a 960 cápsulas via intravenosa.
O facto de se tratar de uma droga ilegal na maioria dos países dificulta a investigação científica.
A intoxicação por THC leva a uma função cognitiva deficiente, conduzindo a distúrbios no que diz respeito à capacidade de planear, organizar, resolver problemas, tomar decisões e controlar determinados impulsos.
A acção farmacológica do THC resulta da sua actividade agonista parcial do receptor canabinóide CB1 (Ki=10 nM), localizado principalmente no sistema nervoso central, e do receptor canabinóide CB2 (Ki=24 nM), expresso principalmente nas células do sistema imunitário. Os seus efeitos psicoactivos são principalmente mediados pela activação de receptores acoplados CB1 proteína-G, que resultam numa diminuição da concentração da molécula mensageira secundária – cAMP – através da inibição a adenilil-ciclase.
Na planta do canábis, o THC apresenta-se essencialmente como ácido tetrahidrocanabinóico (THCA, 2-COOH-THC). Geranil pirofosfato (GPP) reage com o ácido olivetólico, através de acção enzimática, originando ácido anabigerólico, que é catalisado pela enzima THC ácido sintase, dando origem ao THCA. Como tempo, ou por aquecimento, o THCA é descarboxilado, produzindo-se THC.
A síntese laboratorial de THC depende largamente de uma condensação de monoterpenos com o olivetol, por catálise ácida. Dado que a isomerização do ∆1THC para ∆6THC, que é farmacologicamente inactivo, ocorre em meio ácido após aquecimento, a ciclização tem que ser cuidadosamente controlada.
Fonte: Wikipédia http://en.wikipedia.org/wiki/Tetrahydrocannabinol
ChemSpider http://www.chemspider.com/Chemical-Structure.15266.html