
imagem obtida a partir do programa de visualização de proteínas Chimera, usando o template 3RG0 do PDB
A calreticulina, também conhecida como calregulina, CRP55, CaBP3, calsequestrin-like protein e ERp60, é uma proteína que, em humanos, é codificada pelo gene CALR.
É uma proteína multifuncional que liga iões cálcio (um mensageiro secundário na transdução de sinal), sendo ligado com baixa afinidade. Encontra-se armazenada no retículo endoplasmático (RE). Algumas fonts onsideram o termo “Mobilferrina” um sinónimo de calreticulina.
A calreticulina liga-se a proteínas com estruturas 3D mal conformadas e impede que sejam exportadas do RE para o Golgi.
A calnexina, um chaperone com igual qualidade de controlo, realiza o mesmo serviço para proteínas solúveis que a calreticulina. Ambas (calnexina e calreticulina), têm a função de se ligarem a oligossacáridos comtendo resíduos terminais de glucose, marcando-os para degradação. Numa célula normal, o corte dos resíduos de glucose do oligossacárido associado a proteínas por N-glicosilação faz parte da função desempenhada pela proteína. Desta forma, as proteínas com um misfolding são dirigidas para degradação.
A calreticulina possui na região N-terminal um péptido sinal de endereçamento para o Retículo e um sinal K/HDEL, a C-terminal, que impede a exportação desta proteína do retículo. Ao começar a ser traduzida, o sinal dirige a proteína com o mRNA e o ribossoma para a membrana do retículo e a calreticulina é traduzida diretamente para o interior do organelo. após traduzida, o péptido sinal N-terminal é clivado.
A calreticulina e a calnexina também desempenham um papel fundamental na produção das proteínas MHC classe I. Quando sintetizadas as cadeias α do MHC class I entram no retículo, a calnexina liga-se a elas. depois de ligada a β2-microglobulin ao complexo proteico, a calreticulina desempenha a função de chaperonina na montagem da molécula de MHC enquanto a tapasina liga o complexo ao complexo TAP (transporter associated with antigen processing). Esta associação prepara o MHC classe I para a ligação do antigénio para a sua apresentação à superfície.
A calreticulina também é encontrada no núcleo, o que sugere que possa ter algum papel de regulação de transcrição. A calreticulina liga-se ao péptido sintético KLGFFKR, que é praticamente igual ao domínio de ligação ao DNA da superfamília de receptores nucleares,
A região N-terminal interage com o domínio de ligação ao DNA do recetor glucocorticóide e previne o receptor de se ligar aos elementos de resposta glucocorticóides específicos.
A calreticulina pode inibir a ligação do recetor de androgénio à sua hormona e pode inibir a actividade transcripcional do receptor de androgénio e do receptor do ácido retinóido, assim como a diferenciação neuronal induzida pelo ácido retinóido.
A calreticulina liga-se a anticorpos anti-Ro/SSA de certos soros de pacientes com lúpus sitémico e com síndrome de Sjogren.
Em 2013, dois grupos detectaram mutações na calreticulina na maioria de pacientes JAK2–/MPL– com trombocitose essencial e mielofibrose primária, que faz com que as mutações em CALR sejam a segunda maior causa de neoplasias mieloproliferativas. Todas as mutações afectam o último exão, causando uma alteração do quadro de leitura da sequência codificante, causando perda do sinal K/HDEL
A calreticulina (CRT) é expressa em muitas células cancerígenas e desempenha um papel de promover macrófagos a engolfá-las. A razão da maioria das células cancerígenas não serem destruídas é a presença da molécula sinal CD47, que bloqueia a CRT. Assim, anticorpos que bloqueiam o CD47 podem ser úteis como tratamento de cancro.