Com a evolução da citogenética, que inclui a identificação correta e cada vez mais precisa das alterações cromossómicas que podem ser compatíveis com a vida, surgiu a necessidade de se criar uma nomenclatura que fosse universal. Assim, a primeira nomenclatura para os cromossomas humanos surgiu em 1960, na Conferência de Denver, seguida de muitas outras com atualizações permanentes. A última nomenclatura foi publicada em 2009 – ISCN (International System for Human Chromosome Nomenclature).
Serão referidas neste artigo, de forma resumida, as regras básicas fundamentais a partir das quais é possível escrever as fórmulas cromossómicas de praticamente todos os tipos de alterações cromossómicas relevantes para a Citogenética Animal.
Leitura e escrita de fórmulas cromossómicas
(Exemplificação a partir do cariótipo 2n = 46,XX ou 46,XY)
Cariótipo normal – 46,XX ou 46,XY em que:
– 46 corresponde ao número total de cromossomas (autossomas e heterossomas);
– Os cromossomas sexuais devem estar identificados, colocando uma vírgula a seguir a 46, e de seguida escrevendo XX (sexo feminino)ou XY (sexo masculino);
– A ausência de qualquer informação adicional na fórmula significa que o número 46 corresponde a dissomia para cada um dos 23 pares.
Alterações cromossómicas numéricas
Quando há uma anomalia numérica num autossoma, esta deve ser identificada colocando uma vírgula a seguir aos cromossomas sexuais e colocando a seguir um sinal + ou – seguido do autossoma em causa (e.g. 47,XX,+21 – trissomia 21; 45,XY,-7 – monossomia 7).
Quando a anomalia numérica ocorre nos cromossomas sexuais esta é identificada diretamente a partir da escrita desses cromossomas (e.g. 45,X; 47,XXX; 47,XXY; 48,XXYY).
Se ocorrem várias anomalias em simultâneo, estas colocam-se por ordem crescente do número do cromossoma no cariótipo, independentemente do tipo de alteração e sempre antecedidas por uma vírgula (e.g. 48,XX,+8,+21; 46,XY,-7,+8; 44,XX,-3,-7,+8,-9,+21,-22).
Nomenclatura no caso de mosaicismo
Os mosaicos podem surgir a partir de:
–Fenómeno de não-disjunção primário: o que surge a partir de um zigoto com um cariótipo normal. Quanto mais tardiamente surgir o fenómeno de não-disjunção primário maior a frequência de células com o cariótipo normal.
–Fenómeno de não-disjunção secundário: o que surge a partir de um zigoto já com alteração cromossómica, ocorrida já num dos gâmetas. Quanto mais tardiamente surgir o fenómeno de não-disjunção primário maior a frequência de células com o cariótipo alterado.
Quando existem diferentes linhas celulares com número diferente de cromossomas, a linha normal vem sempre em último lugar mesmo que seja a que se apresente em menor percentagem. As diferentes linhas são separadas por barras diagonais. O número de células observado para cada linha é colocado entre parêntesis retos no fim da respectiva fórmula (e.g 45,X [20]/46,XX [10]).
Se existem várias linhas alteradas a sua ordem na fórmula é da que tem maior número de células para a menor, ficando sempre em último a linha normal, independentemente do número de células observadas (e.g. 47,XXY [20]/45,X [10]/48,XXYY [4]/46,XY [15]).
Quando há linhas com alterações numéricas diferentes mas que aparecem em igual número de células, elas colocam-se por ordem crescente do número do cromossoma que se encontra alterado (e.g. 47,XX,+8 [20]/47,XX,+21 [20]/46,XX [30]).
Se neste caso ainda existisse uma linha com alterações nos cromossomas sexuais esta viria em 1º lugar (e.g. 45,X [20]/47,XX,+8 [20]/47,XX,+21 [20]/46,XX [30]).
Quando há simultaneamente alterações numéricas e estruturais em igual nº de células, as numéricas são colocadas em 1º lugar (e.g.47,XXX [15]/46,X,i(X)(q10) [15]/46,XX [20]).
Os mosaicos podem surgir a partir de:
–Fenómeno de não-disjunção primário: o que surge a partir de um zigoto com um cariótipo normal. Quanto mais tardiamente surgir o fenómeno de não-disjunção primário maior a frequência de células com o cariótipo normal.
–Fenómeno de não-disjunção secundário: o que surge a partir de um zigoto já com alteração cromossómica, ocorrida já num dos gâmetas. Quanto mais tardiamente surgir o fenómeno de não-disjunção primário maior a frequência de células com o cariótipo alterado.
Nomenclatura no caso de quimerismo
Nas quimeras em que ambas as linhas são do mesmo sexo a fórmula cromossómica é igual à de um indivíduo normal (46,XY ou 46,XX). Nas quimeras com linhas dos dois sexos estas são separadas por duas barras diagonais (e.g. 46,XY//46,XX).
Alterações cromossómicas estruturais
Há dois sistemas para designar alterações estruturais: sistema curto e sistema detalhado. Este último sistema utiliza-se em casos de cariótipos muito complexos. Neste protocolo vamos apenas abordar o sistema curto.
Sistema curto – regra básica: quando há uma anomalia estrutural, esta deve ser identificada colocando uma vírgula a seguir aos cromossomas sexuais e colocando a seguir a designação da alteração em causa, em letras minúsculas e em abreviatura, seguida do(s) cromossoma(s) envolvido(s) entre parêntesis e seguida da identificação do local de quebra ou quebras (braço, região, banda) também entre parêntesis.
46,XY,del(6)(q23) – deleção terminal do cromossoma 6, com quebra na banda 3 da região 2 do braço longo
46,XX,inv(3)(p13q21) – inversão pericêntrica do cromossoma 3; quando a alteração envolve duas quebras em braços diferentes, designa-se sempre em 1º lugar a quebra do braço curto e depois a do braço longo
46,XY,inv(17)(q12q24) – inversão paracêntrica do cromossoma 17; quando a alteração envolve duas quebras no mesmo braço, designa-se sempre em 1º lugar a quebra mais próxima do centrómero
46,X,i(X)(q10) – isocromossoma formado pelos braços longos do cromossoma X
46,XY,t(4;12)(p13;q21) – translocação recíproca entre os cromossomas 4 e 12; quando a alteração envolve dois cromossomas, coloca-se sempre à frente o cromossoma com o nº menor
46,X,t(X;7)(qter;q22) – translocação não recíproca entre o os cromossomas X e 7 ; quando a translocação envolve um cromossoma sexual este coloca-se sempre à frente do autossoma
45,XX,rob(13;21)(q10;q10) – translocação robertsoniana entre os cromossomas 13 e 21
46,XY,r(7) – cromossoma 7 em anel; não se especificam os pontos de quebra se estes não forem identificados com rigor
Símbolos da nomenclatura cromossómica da Conferência de Chicago:
/ – separação de linhas celulares
? – cromossoma ou estrutura cromossómica não identificada
ace – acêntrico
cen – centrómero
dic – dicêntrico
end – endoreduplicação
h – constrição secundária
i – isocromossoma
inv – inversão
mar – marcador
mat – origem materna
pat – origem paterna
p – braço curto
q – braço longo
r – cromossoma em anel
s – satélite
t – translocação
Conferência de Paris – Alterações à nomenclatura de Chicago
(+) ou (-) – os sinais mais ou menos devem ser colocados antes do símbolo apropriado, quando se refere a um aumento ou diminuição de um cromossoma inteiro. Devem ser colocados depois do símbolo, quando se referem a um aumento ou diminuição de um segmento cromossómico. O aumento do comprimento das constrições secundárias, assim como das regiões que coram muito pouco, distinguem-se do aumento ou diminuição de um braço, colocando o símbolo h entre o símbolo do braço e o sinal + ou – (e.g. 46,XY,9qh+).
Todos os símbolos para as alterações estruturais devem ser colocados antes da designação do cromossoma envolvido na alteração, e deve ser colocado entre parêntesis, como por exemplo r(18) ou i(X).
Símbolos adicionais
del – deleção,
der – cromossoma derivado,
dup – duplicação,
ins – inserção,
inv ins – inserção invertida,
rcp – translocação recíproca,
rob – robertsoniana,
tan – translocação em tandem,
ter – terminal do cromossoma,
: – rotura (sem reunião, como delecção terminal),
:: – rotura e reunião,
-> – de … a.
Definições
Banda – parte do cromossoma que se distingue dos segmentos adjacentes por ser mais clara ou mais escura,
Banda marcadora ou landmark – característica morfológica distinta, que é importante para a identificação do cromossoma.
Região – área do cromossoma que se localiza entre 2 bandas marcadoras adjacentes. Um braço que não tenha banda marcadora consistente, é constituído apenas por uma região.
Numeração das bandas
As regiões das bandas são numeradas do centrómero para o extremo de cada braço (fig1). Uma banda usada como landmark pertence totalmente à região distal da landmark, e chama-se banda nº1 nesta região.
Para designar determinada banda é necessário indicar:
– símbolo do braço,
– nº da região,
– nº da banda.
Estas características devem ser escritas seguidamente, sem intervalos nem pontuações (e.g. p33, q13).
Fonte: a informação utilizada nesta publicação foi fornecida pelo Laboratório de Citogenética do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar