No início deste ano, uma equipa de investigadores liderada por Lars Rosberg e Jan Dimanski da Universidade de Uppsala questionaram-se sobre o porque dos homens desenvolverem mais cancros não relacionados com os órgãos sexuais e o porque de morrerem mais frequentemente quando esses cancros ocorrem (nos órgãos do aparelho reprodutor). Os autores citam ainda que a perda do cromossoma Y com a idade é frequente em células hematopoiéticas, mas com consequência ainda por desvendar.
Esta equipa mostrou que a perda do cromossoma Y nas células sanguíneas ocorrem em 8,2 % dos homens mais velhos de uma amostra de 1153 indivíduos do sexo masculino e que desses a experiência média de vida caí 5,5 % e o risco de vir a desenvolver um cancro não hematológico está aumentado em cerca de 3,5 vezes.
Cromossoma Y muito para além da determinação sexual
Os autores inferiram, com estas observações, que os homens são mais afetados por cancro devido à perda do cromossoma Y e que este pode estar associado a mais processos importantes para além da determinação do género.
O tabaco e o cromossoma Y
Esta equipa continuo os estudos no intuito de conseguir saber quais as causas para a perda do cromossoma Y, e um artigo publicado por estes na Science no passado dia 4 de dezembro, mostra que o fumo do tabaco tem um papel preponderante na perda do cromossoma Y.
Os testes de exercício, diabetes, índice de massa corporal (IMC), educação e álcool não interferiram significativamente com a perda do cromossoma Y. Os autores acrescentam que a mutação mais encontrada ocorria entre 12 a 16 % nos indivíduos de 70 ou mais anos de idade e que essa percentagem aumenta entre 2,4 a 4,3 vezes para fumadores.
Nem tudo são más notícias
A boa notícias para os fumadores, e que deixaram os cientistas intrigado, foi que o deixar de fumar ou diminuir o consumo de tabaco reduz esta perda do cromossoma Y, indicando um processo dinâmico e reversível. Por exemplo, para indivíduos que deixaram de fumar entre os 25 e os 34 anos de idade, os resultados de sobrevivência são muito idênticos aos que nunca fumaram.
Estes dados vão de encontro aos resultados epidemiológicos já existentes que apontavam o tabaco com principal fator de risco para desenvolver cancro nos homens, o que não acontecia nas mulheres com a mesma relevância.
Os autores não sabem, contudo, se a perda do cromossoma Y é um fator de risco para o cancro ou não passa de um incidente que repercute de outros danos genéticos das células. Não obstante, a perda do cromossoma Y é mais notória em células do sistema imune, indicando uma possível associação do cromossoma Y no combate aos tumores via sistema imune.
Cromossoma Y como rastreio
A equipa criou uma startup com o intuito de criar um teste ao sangue capaz de medir os níveis de perda do cromossoma Y e avisar indivíduos do sexo masculino com uma certa idade de que estão num grupo de risco para desenvolver um qualquer tipo de cancro.
Fonte: IFLS e Science (Science DOI: 10.1126/science.1262092)