Um grupo de investigadores da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, levaram a cabo um tratamento revolucionário para o cancro. Em vez de focarem os seus esforços em cirurgias, quimioterapia, radioterapia ou outro tipo de tratamento convencional, usaram células infectadas com o vírus da SIDA para combater a leucemia.
Os cientistas trataram Emma Whitehead, uma menina de sete anos de idade, reprogramando os seus linfócitos T (pertencem a um grupo de glóbulos brancos responsáveis por coordenar a imunidade celular) através do uso de uma forma não activa do vírus da SIDA. Emma sofria de um tipo de cancro super agressivo e resistente aos tratamentos convencionais chamado leucemia linfóide aguda.
TRATAMENTO
Os médicos colheram milhões de linfócitos T do próprio organismo de Emma e utilizaram o vírus do HIV, devido à sua incrível capacidade de transportar material genético, para introduzir novos genes nessas células imunológicas (linfócitos T). Assim, o sistema imunológico da menina foi reprogramado geneticamente para procurar as células cancerosas e destruí-las.
Os “novos” linfócitos foram introduzidos, de novo, na corrente sanguínea de Emma para procurar a proteína CD-19, presente na maioria das células B, que também fazem parte do sistema imunológico e se tornam malignas quando um paciente sofre de leucemia. O melhor é que as células reprogramadas permanecem no organismo dos pacientes, mesmo depois de finalizado o tratamento, funcionando como verdadeiros medicamentos vivos.
RESULTADOS
Os resultados não foram imediatos, e Emma quase não resistiu ao tratamento, sofrendo de inúmeras reacções, como febre alta, queda drástica de pressão sanguínea e problemas respiratórios até que os médicos conseguiram estabilizar o seu gravíssimo quadro clínico.
De acordo com os pesquisadores, as fortes reações apresentadas pelos pacientes são um sinal de que o tratamento estava tendo efeito, já que elas ocorrem devido à liberação de substâncias pelas células e indicam que está ocorrendo uma forte mobilização no sistema imunológico.
O tratamento revolucionário funcionou e Emma está em remissão completa há sete meses. Apenas 12 pacientes no mundo receberam esse tratamento experimental, e quatro deles, incluindo a Emma, obtiveram sucesso, sendo que dois deles estão bem há mais de dois anos. Emma foi a primeira criança a receber o tratamento, e o primeiro paciente com esse tipo de leucemia.
Porém, o tratamento não funciona da mesma forma para todos, e o custo é bastante alto. Cada paciente tem as células reprogramadas especialmente, e o custo do procedimento é de cerca de 20 mil dólares (cerca de 15 mil euros). Além disso, os novos linfócitos não atacam apenas as células B malignas, mas as saudáveis também, o que significa que os pacientes se tornam vulneráveis a alguns tipos de infecções e precisam receber tratamentos frequentes para regular os níveis de imunoglobulinas.
Mesmo assim, a nova técnica pode substituir os complicados transplantes de medula óssea, assim como outros procedimentos ainda mais caros e complicados, e a comunidade médica e científica acredita que esta nova terapia pode ser uma gigantesco avanço no combate ao cancro.
Fonte: The New York Times