A construção de pequenos montes de pedras está a popularizar-se um pouco por todo o mundo. Em Portugal são muitas vezes encontrados em serras, junto a trilhos, como é exemplo o caso da Serra da Estrela. Quer seja por ficarem bem na fotografia, ou por simplesmente acharem giro esta é uma prática cada vez mais comum. Contudo é algo errado e perigoso.
Estes pequenos montes de pedras são conhecidos por vários nomes, mariolas, malhões ou moledos, e vão de apenas três ou quatro pedras, a estruturas com mais de 2 metros de altura. São na verdade marcos de sinalização de trilhos, que remontam ao pastoreio ancestral, servindo como guia para os pastores. Hoje o seu papel é principalmente complementar as marcas da rede de percursos pedrestes, ou indicar trilhos que não dispõem dessas marcas. As mariolas são idealmente colocadas em posições elevadas estratégicas de modo a serem facilmente visualizados.
No entanto devido a esta moda muitos outros montes de pedra têm surgido sem ter em conta este propósito, colocados em qualquer sítio e por qualquer razão, podendo confundir quem vê nas mariolas um ponto de referência. Esta confusão pode fazer a diferença entre continuar-se no trilho correcto, ou perder-se durante quilómetros e/ou horas de caminhada, já para não falar nos riscos que a isso possam estar associados. Por esta razão é feito o apelo por parte de muitos dos responsáveis dos parques naturais do nosso país para que não se amontoem pedras.
Outra razão pela qual não deves fazer estes montinhos de pedras prende-se com a biodiversidade – ou melhor com a ameaça que eles representam para a biodiversidade. De acordo com Ricardo Rocha, um dos 14 cientistas que assinaram uma carta ao director, publicada na revista científica Human-Wildlife Interactions, estes montinhos que parecem inofensivos podem ter grandes impactos na biodiversidade, afectando animais como a osga-das-Selvagens (Tarentola bischoffi) ou o caracol de São Lourenço (Amphorella tornatellina minor), ambos encontrados no Arquipélago da Madeira.
Também o jornal Polígrafo verificou a veracidade da seguinte questão: “Aglomerados de pedras na Serra da Estrela põem em risco animais em vias de extinção?”. Quando questionada pelo Polígrafo, fonte oficial do Instituto das Florestas e Conservação Florestal (IFCN) confirmou a veracidade da situação em causa e explica que a “mobilização das pedras soltas que constituem a camada superficial do solo nas zonas de maior altitude na área do Parque Natural da Serra da Estrela (acima de 1500 metros de altitude) destroem o habitat da lagartixa-de-montanha (Iberolacerta monticola subsp. monticola), uma espécie endémica da serra da Estrela”.
Portanto da próxima vez que forem à montanha, fazer um trilho ou simplesmente passear, aproveitem a vista, tirem fotos, mas por favor deixem as pedras em paz.
Fontes
Gosta de empilhar pedras? Não o faça nas serras. É que estes mariolas indicam os trilhos
Está na moda encher a Serra da Estrela com mariolas — e isso é perigoso
Saiba porque é que estes montinhos de pedras ameaçam a biodiversidade
Aglomerados de pedras na Serra da Estrela põem em risco animais em vias de extinção?
Mariolas do Parque Nacional – XIV – MMXXI
Mariolas do Parque Nacional – XV – MMXXI
Imagem de destaque: Exemplo de uma mariola encontrada no Parque Nacional da Peneda-Gerês