No Ciências Insólita desta semana, vamos olhar para um trabalho muito particular desenvolvido por Victor Benno Meyer-Rochow e Jozsef Gal e publicado na revista científica “Polar Biology” no ano de 2003. Estes dois investigadores decidiram determinar matematicamente a pressão exercida nas fezes expelidas pelos pinguins de forma a que estas se mantenham longe do ninho. O interesse por este estudo advém do facto pinguins de Chinstrap e Adélia serem capazes de expelir as suas fezes para bem longe da zona circundante dos seus ninhos.
Fatores considerados na determinação
Os investigadores debruçaram-se sobre alguns factores relevantes para a determinação da pressão que as fezes de pinguins experimentam quando são expelidas. Os fatores são os seguintes:
- Distância que as fezes viajam até atingirem a superfície do solo;
- Densidade e viscosidade do material fecal;
- Forma, dimensão e altura do orifício de excreção dos pinguins.
A figura 1 mostra um modelo de como foram efectuadas as medições para prever a pressão de excreção de fezes dos pinguins.
Figura 1 – Modelo da posição e medidas usadas no estudo
Os resultados
As medições e os cálculos efectuados pelos investigadores possibilitaram a determinação das pressões médias de excreção de fezes em pinguins adultos. A pressão aplicada pode ser de 10 kPa (0.1 bar) quando o material excretado é de natureza aquosa. Porém, esta pressão pode chegar aos 60 kPa (0.6 bar) quando o material adquire uma viscosidade mais elevada, semelhante à do azeite. (Figura 2)

Figura 2 – Diagrama que mostra a pressão resultante do defecar de fezes com diferente viscosidade e diferentes diâmetros do orifício cloacal. (4,2 mm=Pinguim saltador-da-rocha, 8,0 mm= pinguim de Adélia, e 13,8 mm=Pinguim Gentoo)
Os autores concluem ainda que as forças envolvidas nesta característica dos pinguins estão bem acima daquelas experimentadas pelos seres humanos, no entanto não originam a fluxos turbulentos que poderia resultar em desperdício de energia.
O futuro
Apesar destes novos resultados, os investigadores alertam ainda para o facto de não se saber se os pinguins escolhem o lado para o qual defecam e qual é o papel do vento em todo este processo.
Fonte: Meyer-Rochow, Victor Benno and Jozsef Gal. “Pressures Produced When Penguins Pooh—Calculations on Avian Defaecation.” Polar Biology 27, no. 1 (2003/12/01 2003): 56-58. http://dx.doi.org/10.1007/s00300-003-0563-3.