A leishmaniose é uma doença infeciosa tropical causada pelo parasita intracelular Leishmania, afetando mamíferos, principalmente cães e humanos. Na espécie humana, a leishmaniose tem diferentes manifestações clínicas: leishmaniose cutânea, muco-cutânea e visceral.
A leishmaniose cutânea é caracterizada por lesões que normalmente curam, deixando uma cicatriz; a leishmaniose muco-cutânea afeta as mucosas do nariz e boca e em casos mais graves leva à destruição do tecido e à desfiguração do paciente; a leishmaniose visceral é a forma mais grave desta doença e leva a disfunções sistémicas como hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e baço), febre, perda de peso, anemia e, eventualmente, morte. (1)
É estimado que a incidência da leishmaniose visceral seja de 0,2 a 0,4 milhões de novos casos por ano. Os parasitas do género Leishamnia são transmitidos por moscas da areia (Phlebotomus spp.) em zonas endémicas tropicais e subtropicais. A incidência desta doença tem aumentado nos países industrializados, devido à facilidade que há, hoje em dia, de viajar para estas zonas endémicas.
Em Portugal, a leishmaniose visceral é transmitida por Leishmania infantum e afeta sobretudo cães. A zona mais endémica de leishmaniose visceral nos humanos é na região do Alto Douro. (2)
O ciclo de vida deste parasita é heteróxeno. A doença desenvolve-se após a picada da mosca, que ao fazer uma refeição sanguínea, inocula o parasita no estadio de promastigota metacíclico. O parasita infeta macrófagos e outras células do sistema imune, passando para o estadio de amastigota, replicando-se por fissão binária até que a quantidade de parasitas é tão grande que a célula hospedeira rebenta, libertando amastigotas que infetam outras células do sistema imune. Quando uma mosca da areia se alimenta de um hospedeiro infetado, aspira amastigotas. Os parasitas viajam pelo sistema digestivo da mosca, passando para o estadio de promastigota e depois, quando passam para as glândulas salivares do inseto, ficam na forma de promastigota metacíclicos, prontos para infetar outro hospedeiro vertebrado.
Após uma suspeita de leishmaniose por parte do médico, o diagnóstico é feito através da visualização de parasitas em cortes tecidulares e pela deteção de anticorpos anti-Leishmania no soro. (3)
No caso dos cães, já foram desenvolvidas algumas vacinas para prevenir esta doença: a Leishmune e a Leish-Tec. (4,5) No humanos, os fármacos usados dependem da manifestação clínica da doença, mas têm eles têm associadas altos níveis de toxicidade e efeitos secundários. Alguns exemplos são a anfotericina B, pentamidina, metilfosina, entre outros. (3)
- WHO | About leishmaniasis.
- Campino L, Maia C. Epidemiologia das leishmanioses em portugal. Acta Med Port. 2010;23:859-864.
- WHO technical report series; no. 949. Control of the leishmaniases. Report of a meeting of the WHO Expert Committee on the Control of Leishmaniases, Geneva, 22– 26 March 2010. World Health Organ Tech Rep Ser. 2010;(949):xii-xiii, 1-186, back cover.
- Nogueira FS, Moreira MAB, Borja-Cabrera GP, et al. Leishmune vaccine blocks the transmission of canine visceral leishmaniasis: absence of Leishmania parasites in blood, skin and lymph nodes of vaccinated exposed dogs. Vaccine. 2005;23(40):4805-10. doi:10.1016/j.vaccine.2005.05.011
- De Souza Testasicca MC, Dos Santos MS, Machado LM, et al. Antibody responses induced by Leish-Tec(®), an A2-based vaccine for visceral leishmaniasis, in heterogeneous canine population. Vet Parasitol. doi:10.1016/j.vetpar.2014.04.025.
- Moiz B, Beg M A, Ali N. Cutaneous leishmaniasis in a soldier. Indian J Pathol Microbiol 2010;53:903-4
- Genetic susceptibility to infectious disease: lessons from mouse models of leishmaniasis. Nature Reviews Genetics 7, 294-305 (2006). doi:10.1038/nrg1832