Hoje iremos abordar as perturbações da ansiedade, o grupo de patologias psiquiátricas mais frequentes na população geral.
A ansiedade é um mecanismo adaptativo normal que faz parte da nossa evolução como seres humanos, uma vez que nos ativa física e mentalmente face a uma emergência ou perigo. Este estado de alerta reflete-se no aumento do fluxo sanguíneo, ativação muscular e melhoria do pensamento e capacidade de reação – a resposta conhecida como fight or flight, típica da ativação do sistema nervoso simpático. Esta resposta torna-nos funcionais e melhora o nosso rendimento. No entanto, a partir de um determinado ponto, ela deixa de ser adaptativa e torna-se disfuncional. Esta linha que distingue os dois tipos de ansiedade – a normal e a patológica – é ténue e depende de indivíduo para individuo.
As perturbações da ansiedade dividem-se em várias patologias: a perturbação da ansiedade generalizada, a fobia específica, a perturbação da ansiedade social (ou fobia social), a agorafobia (com ou sem perturbação de pânico) e a perturbação de pânico.
Sintomas
Os sintomas das perturbações da ansiedade podem ser divididos em dois grupos: os psicológicos e os físicos
Psicológicos
Uma experiência desagradável, com um estado de preocupação e apreensão para além do normal e sentimentos de insegurança, intranquilidade e irritabilidade são os sintomas mais frequentes. Muitas pessoas também experienciam dificuldades de concentração e de memória, fadiga e cansaço constantes. Mais raramente, podem também experienciar sintomas muito angustiantes de despersonalização – a pessoa sente que está fora de si/do seu corpo, – e de desrealização – a pessoa sente que está a sair do mundo real e a entrar num mundo de sonhos ou realidade alternativa.
Físicos: Os sintomas físicos advêm maioritariamente da ativação simpática do sistema nervoso, o que se traduz por alterações em todos os sistemas. A pessoa sente, por exemplo, tensão muscular, voz trémula, hipersudorese, palpitações, mãos frias, face corada, respiração ofegante, secura da boca ou náuseas.
Causas
Não há uma causa específica de ansiedade. Os grandes dois fatores implicados nesta patologia é o aparecimento de estímulos stressores adversos e a hipervalorização cognitiva desses estímulos. Pessoas com traços de personalidade mais ansiosos estão mais predispostos a hipervalorizar cognitivamente os estímulos que vão surgindo ao longo da vida. Um grande número de estímulos stressores, em conjunto com a sua hipervalorização cognitiva, fazem com que haja uma ativação emocional desproporcionada face a esses acontecimentos, o que leva a ansiedade. Esta, por sua vez, leva ainda a uma maior ativação emocional, aumentando a valorização cognitiva dos estímulos que lhe deram origem, tornando-se um ciclo vicioso.
Diagnóstico
Pode haver alguma dificuldade no diagnóstico das perturbações da ansiedade, maioritariamente por ser uma patologia com sintomas muito inespecíficos, que mimetizam ou podem ser secundários a patologia em outros órgãos e sistemas (por exemplo, as náuseas podem dever-se a problemas gastrointestinais). Para além disso, não há exames nem análises específicas de perturbação de ansiedade, pelo que este é um diagnóstico de exclusão na maior parte das vezes.
É importante ter em atenção que os sintomas ansiosos podem ser induzidos por substâncias ou medicamentos e, nestes casos, é importante perceber se foi introduzido um novo fármaco ou se há historial de consumo de substâncias e qual a sua relação temporal com o início dos sintomas.
Tratamento
Embora o tratamento dependa muito do tipo de perturbação de ansiedade diagnosticada, ele assenta em 2 pilares fundamentais:
Psicoeducação: explicar a natureza dos sintomas e tranquilizar a pessoa relativamente à inexistência de qualquer patologia médica, ou seja, que há uma explicação psicogénica para eles. Para além disso, é importante dar ferramentas de resolução de problemas e ajuste a situações de stress. Outras ferramentas importantes são o treino de relaxamento e a terapia cognitivo-comportamental.
Farmacológico: os fármacos de primeira linha são os antidepressivos com ação serotoninérgica, os SSRI, podendo haver também lugar para as benzodiazepinas ou a buspirona. O tratamento é normalmente prologado (6 meses).
Fonte: Harrison, P.;Cowen, P.; Burns, T.;; Shorter Oxford Textbook of Psychiatry. (7th edition), Oxford University Press, 2018. ISBN: 9780198747437