Hoje no Espaço Saúde vou abordar um tema que tem sido muito abordado como principal sintoma em doentes com COVID. Como sabemos e, principalmente no início da pandemia, os principais sintomas prendiam-se pela perda parcial ou completa do olfato, o que nos dava a indicação que deveríamos estar em alerta para uma possível infeção por SARS-COV-2.
Assim, a anosmia é a perda completa do olfato, podendo haver também hiposmia que é a perda parcial do olfato. De realçar que, na presença de uma anosmia unilateral, esta por norma não é reconhecida. O que se verifica em doentes com anosmia é uma perceção normal de substâncias salgadas, doces, azedas e amargas pela ativação das glândulas papilares presentes na língua, mas pela ausência de olfato, é impossível discriminar e diferenciar os alimentos e cheiros que nos rodeiam. No entanto, o que acontece muitas vezes nestes doentes é queixarem-se da perda de paladar por não terem a capacidade de apreciar, por exemplo, um alimento, mas na verdade o que acontece é a perda do olfato que não deixa que haja diferenciação nem perceção dos cheiros que possam ser identificativos dos diferentes alimentos.
Como ocorre a anosmia?
A anosmia ocorre quando o edema intranasal ou outro tipo de obstrução impede que os odores que inalamos tenham acesso à área olfatória presente no nariz, quando existe uma destruição do neurepitélio, do nervo, trato e bulbos olfatórios e/ou conexões centrais.
Figura 1 – Anatomia e localização da área olfativa no nariz que em casos de anosmia se encontra temporária ou permanentemente alterada.
Causas da anosmia
As principais causas de anosmia incluem:
- Traumatismo craniano;
- Infeções virais;
- Doença de Alzheimer.
Figura 2 – Principais causas de anosmia.
As sequelas que permanecem nos doentes com infeção das vias aéreas superiores, especialmente as associadas ao vírus influenza apresentam hiposmia ou anosmia em cerca de 14 a 26% dos casos.
Existem também alguns fármacos que podem contribuir para o desenvolvimento de anosmia em pacientes que sejam mais suscetíveis, como sejam os portadores de algum tipo de sequela por infeções. A radioterapia incidente ao nível da cabeço e pescoço, cirurgia nasal ou dos seios nasais, tumores nasais e/ou cerebrais.
Como já mencionei no início deste post, a anosmia também está associada à doença COVID como sintoma precoce do aparecimento da doença.
Avaliação clínica da anosmia
História de doença atual
Deve avaliar a evolução dos sintomas no tempo e na relação com episódios de infeção das vias aéreas superiores ou traumatismos na cabeça.
Também é importante perceber se existe congestão nasal, rinorreia ou ambos.
Revisão dos sistemas
Deve avaliar os sintomas neurológicos e nervos cranianos de forma a tentar perceber se anatómica e funcionalmente está tudo a funcionar normalmente.
História clínica anterior
Deve incluir relatos prévios de sinusite, traumatismos cranianos, cirurgia, alergia, fármacos utilizados e exposição a substâncias químicas ou fumo.
Realização de um exame físico
Deve haver um exame para verificar a presença de edema, inflamação, coriza e pólipos.
Solicitar que o paicente respire através de cada uma das narinas, uma de cada vez, de forma a tentar perceber se existe algum tipo de obstrução.
Principais sinais de alerta
- Traumatismo craniano;
- Sintomatologia neurológica;
- Início súbito;
- Epidemia local ou global de COVID-19.
Que procedimentos clínicos devem ser adotados?
É necessário e importante realizar um exame rápido do olfato para ajudar a confirmar que existe uma disfunção olfatória. Para isso, obstrui-se uma narina e permite-se à outra sentir diferentes odores e se for possível identifica-los pelo paciente significa que está mantida a integridade do olfato. O mesmo procedimento é repetido para a outra narina.
Se não houver nenhuma causa aparente para a identificação de anosmia, é importante rever a avaliação clínica procedendo à realização de uma tomografia computorizada aos pacientes para descartar presença de fratura ou tumores na fossa craniana. Para além disso, também permite identificar presença de doença craniana, nasal ou sinusal.
À parte disto, é importante realizar uma avaliação psicofísica de identificação de odor e sabor e de deteção de limiar.
Na suspeita de COVID-19, os pacientes devem ser testados e tratados de acordo com os protocolos estabelecidos até ao momento.
Qual o tratamento a adotar?
Quando identificamos a causa específica, facilmente esta pode ser tratada, mas nem sempre o olfato é recuperado na sua totalidade mesmo após tratamentos bem-sucedidos.
Os pacientes que mantêm um nível parcial de olfato, podem usar a adição de determinados afentes aromatizantes concentrados nos alimentos de forma a intensificar os cheiros e estimular o olfato no momento de comer.
Importância de estarmos atentos à perda de olfato nos idosos
Relativamente à presença de anosmia nos idosos, este é um fator primordial, tendo em conta que o envelhecimento normal também propicia perda significativa de neurónios recetores olfativos desencadeando uma diminuição da perceção olfativa.