Hoje no Espaço Saúde, o tema que vamos abordar incide sobre a sexualidade no homem, por isso, homens que estejam a ler este post, atenção! A hepatospermia caracteriza-se pela presença de sangue no sémen, visível após uma ejaculação e, normalmente, sempre associado após um ato sexual. Normalmente, os pacientes ficam assustados e em estado alerta, mas quase sempre a causa é benigna. No entanto, os homens devem ficar atentos ao que pode estar por de trás dessa sintomatologia. Mas em regra, o que acontece é uma confusão por parte dos homens entre hematúria, que é a presença de sangue, proveniente de um parceiro sexual, com hematospermia.
É de conhecimento geral que o sémen é constituído por espermatozóides que são provenientes dos epidídimos distais e de líquidos das vesículas seminais, próstata e glândulas de Cowper e bulboretrais. Assim, se o homem tiver alguma lesão em alguma destas regiões anatómicas, pode por essa razão haver sangramento para o sémen e ser notório após uma ejaculação. Por isso, nunca devem descartar uma situação destas, devendo recorrer ao médico para uma avaliação clínica mais criteriosa de forma a descartar algum problema de saúde mais grave.
Figura 1 – Morfologia e fisiologia do aparelho reprodutor masculino com indicação de algumas regiões que podem estar sujeitas a lesão.
Como já referi anteriormente, a maioria destes casos é de etiologia idiopática benigna, ou seja, são casos resolvidos espontaneamente em alguns dias ou alguns meses. No entanto, em casos mais raros e pontuais, a causa pode ser biópsia prostática. Para além desta, podemos ter ainda outras causas como:
- Instrumentações;
- Hiperplasia prostática benigna;
- Infeções da próstata, uretra, epidídimo;
- Cancro da próstata (normalmente mais incidente em homens a partir dos 35 anos);
- Tumores das vesículas seminais e testículos;
- Hemangiomas da uretra prostática ou do ducto espermático
- Este normalmente associado a hematospermia grave
- Um parasita (Schistosoma harmatobium) proveniente de África, partes do médio Oriente e sudeste da Ásia também pode invadir o trato urinário causando hematúria
- No entanto, esta causa só em considerada se o homem esteve nestas áreas endémicas
- Tuberculose também causa hematospermia, embora de forma rara
Como é realizado o diagnóstico?
- História clínica
É importante fazer uma avaliação da história da doença atual que permite observar a duração dos sintomas. É importante referir que os pacientes que não fornecem informações voluntariamente devem ser especificamente questionados sobre biópsia de próstata recente.
Com base nisto, é de salientar atenção para os sintomas como hematúria, dificuldade em iniciar ou suspender o fluxo miccional, noctúria, queimação durante a micção e corrimento peniano. À parte disto, é relevante traçar uma ponte e interrogar sobre a realização de atividades sexuais recentes.
Acopladamente é importante também estudar se existem sintomas das doenças causadoras de hematomas fáceis, epistaxes frequentes e sangramento gengival abundante durante a escovação ou procedimentos dentários (doenças hematológicas), febre, calafrios, sudorese noturna ou perda ponderal (cancro ou infecção da próstata).
Importa ainda considerar doenças conhecidas da próstata, história ou exposição à tuberculose ou HIV, fatores de risco de doenças sexualmente transmitidas, alterações de sangramento e doenças conhecidas que predispõem a sangramento, história familiar de cancro da próstata e viagens a regiões endémicas de esquistossomose.
- Exame físico
Deve ser realizado um exame aos órgãos genitais masculinos externos (palpação) quanto à presença de sinais inflamatórios (eritema, massa, dolorimento), particularmente ao longo do epidídimo. O toque retal é realizado para examinar a próstata quanto ao tamanho, à dor e aos nódulos.
Sinais de alerta
Os achados a seguir são particularmente preocupantes:
- Os sintomas duram > 1 mês na ausência de biópsia de próstata recente
- Lesão palpável ao longo do epidídimo ou na próstata
- Os pacientes com achados anormais ao exame da próstata podem apresentar cancro da próstata, hiperplasia benigna ou prostatite. Corrimento uretral sugere doenças sexualmente transmissíveis
- O edema do epidídimo sugere doenças sexualmente transmissíveis ou raramente tuberculose
- Viagem a regiões endémicas de esquistossomose
- Sintomas sistémicos
- Febre, perda ponderal, sudorese noturna
- Exames
Na maioria dos casos, especialmente em homens < 35 até 40 anos de idade, a hematospermia é considerada quase sempre benigna. Caso não se encontre alteração significativa no exame físico (incluindo toque retal), realiza-se exame de urina, cultura e teste para doenças sexualmente transmissíveis, mas não necessariamente.
Os pacientes que podem apresentar doença de base mais séria e que devem ser testados incluem
- Duração de sintomas maior (> 1 mês)
- Hematúria
- Sintomas obstrutivos do trato urinário
- Achados anormais ao exame
- Febre, perda ponderal ou sudorese noturna
Esses resultados são particularmente preocupantes em homens > 40 anos. Os exames incluem exame de urina, cultura, antigénio prostático específico (PSA, prostate-specific antigen) e ultrassonografia transretal.
Como se deve proceder para tratar a hematospermia?
Só existe tratamento para aqueles pacientes em que foi associada uma causa.
Para a maioria dos homens, a única intervenção clínica necessária é assegurar que a hematospermia não está associada a cancro e não afeta a função sexual.
Se houver suspeita de algum tipo de infeção, estas devem ser tratadas com antibiótico por 4 a 6 semanas.
Figuras: 1