No Espaço Saúde vamos abordar uma intolerância a hidratos de carbono que é caracterizada pela inabilidade de digerir certos hidratos de carbono devido à falta de uma ou mais enzimas intestinais. O que se verifica é que os dissacarídeos são quebrados em monossacarídeos pelas dissacaridases (enzimas) localizadas enterócitos que são um tipo de célula epitelial presente camada superficial do intestino delgado e intestino grosso. O que acontece se estes dissacarídeos não forem digeridos é que aumentam a osmolaridade, o que atrai água e eletrólitos para dentro do intestino, produzindo diarreia aquosa. A fermentação bacteriana dos hidratos de carbono no cólon produz gases que desencadeiam flatulência excessiva, distensão, desconforto e dor abdominal.
A deficiência destas enzimas no desdobramento de dissacarídeos pode ser de causa congénita, adquirida ou secundária.
A deficiência adquirida de lactase é a forma mais comum de se detetar intolerância a hidratos de carbono. Normalmente, os bebés apresentam os níveis de lactase para digerir mais facilmente o leite e vão decrescendo com o avançar da idade até à fase adulta que não estão aptos para ingerir quantidade significativas de lactose, por esta mesma razão. Contudo, 80 a 85% dos brancos com ascendência do noroeste europeu produzem lactase ao longo de toda a vida e assim conseguem digerir facilmente leite e derivados.
A deficiência secundária de lactase ocorre em condições que danificam a mucosa do intestino delgado como é exemplo a doença celíaca. Nos lactentes, a deficiência de lactase temporária pode complicar infecções entéricas ou cirurgias abdominais. A melhora da doença de base é seguida por aumento da atividade da enzima.
Sintomatologia
Os sinais e sintomas da intolerância a hidratos de carbono são similares em todas as deficiências de dissacaridases. Uma criança que não pode tolerar lactose desenvolve diarreia depois de ingerir quantidades significativas de leite e pode não ganhar peso. Um adulto acometido pode ter diarreia líquida, distensão, flatulência em excesso, náuseas e cólicas abdominais depois de ingerir lactose.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico deste tipo de intolerância é clínico e deve ser realizado um teste respiratório com hidrogénio para confirmação.
Em termos de diagnóstico clínico, o médico deve fazer uma avaliação da história do paciente apoiada pela sua descrição de prova alimentar. Os pacientes referem presença de diarreia e/ou gases após a ingestão de leite e alimentos lácteos; outros sintomas, como exantema, sibilos ou outros sintomas anafiláticos (particularmente em lactentes e crianças), sugerem a alergia ao leite de vaca. O diagnóstico também é sugerido se as fezes de diarreia crónica ou intermitente são ácidas (pH < 6) e pode ser confirmado por teste respiratório com H2 ou teste de tolerância à lactose.
No teste respiratório com hidrogénio, 50 g de lactose são fornecidos por via oral e o hidrogénio produzido pelo metabolismo bacteriano da lactose não digerida é medido por bafómetro em 2, 3 e 4 h após a ingestão. Muitos dos pacientes afetados têm aumento no hidrogénio expirado > 20 ppm da linha de base.
O teste de tolerância à lactose é menos sensível. Administra-se lactose por via oral (1,0 a 1,5 g/kg de peso corporal). A glicemia é medida antes, 60 e 120 minutos depois. Pacientes intolerantes à lactose apresentam diarreia, distensão abdominal e desconforto depois de 20 a 30 minutos e seus níveis séricos de glicose não sobem acima de > 20 mg/dL acima dos valores iniciais.
Tratamento
O tratamento exige essencialmente uma restrição dietética!
A má absorção de hidratos de carbono é prontamente controlada evitando-se a ingestão de açúcares na dieta que não possam ser absorvidos. De referir que suplementos enzimáticos devem ser considerados como adjuvantes e não como substitutos para a restrição alimentar. Pacientes com intolerância à lactose devem receber suplementos de cálcio (1.200 a 1.500 mg/dia).