A CID: Coagulação intravascular disseminada, também conhecida como coagulopatia de consumo ou Síndrome de desfibrinação resulta da exposição do fator tecidual ao sangue, promovendo a cascata da coagulação. O que acontece é que a via fibrinolítica (pertencente à cascata da coagulação) é ativada na CID. A estimulação das células endoteliais pelas citocinas e as alterações do fluxo sanguíneo microvascular provocam a libertação do fator de ativação do plasminogénio tecidual a partir das células endoteliais. Tanto este fator como o plasminogénio ligam-se aos polímeros de fibrina e a plasmina formada cliva a fibrina em D-dímeros e outros produtos de degradação da fibrina. Portanto, a coagulação intravascular disseminada pode causar tanto trombose como sangramento.
Em que situações mais comuns pode ocorrer uma CID?
- Complicações obstétricas:
- Descolamento prematuro da placenta;
- Aborto terapêutico induzido por solução salina;
- Feto morto ou produtos de conceção retidos;
- Embolismo do líquido amniótico.
Nestas situações, o tecido placentário com atividade do fator tecidual entra ou é exposto à circulação materna.
- Infeção:
- Microrganismos Gram-negativos:
- A endotoxina Gram-negativa provoca geração ou exposição da atividade do fator tecidual em células fagocíticas, endoteliais e teciduais.
- Microrganismos Gram-negativos:
- Cancro:
- Adenocarcinomas secretores de mucina do pâncreas;
- Adenocarcinomas da próstata;
- Lleucemia promielocítica aguda.
- Choque:
- Por qualquer causa que produz lesão tecidual isquémica e exposição do fator tecidual.
E quais as causas menos comuns mas que também podem surgir?
- Lesão tecidual grave:
- Por traumatismo craniano, queimaduras, úlceras ou ferimentos por arma de fogo.
- Complicações cirúrgicas
- Enzimas de certos venenos de cobra:
- Entram na circulação, ativam um ou vários fatores da coagulação, e geram trombina ou convertem diretamente o fibrinogénio em fibrina.
- Hemólise intravascular profunda
- Aneurismas aórticos ou hemangiomas cavernosos
Em situações em que ocorre coagulação intravascular disseminada que evolui de forma lenta costuma resultar principalmente em cancro, aneurisma ou hemangioma cavernoso. Exames regulares ajudam a regularizar a informação clínica sobre a hemóstase de cada indíviduo.
Sintomatologia da CID
Na CID de evolução lenta:
- Trombose venosa e/ou sintomas de embolia pulmonar.
Na CID de evolução rápida:
- Locais de picadas (p. ex., punções intravenosas ou arteriais) sangram persistentemente;
- Há formação de equimoses (nódoas negras) formam-se em locais de injeções parenterais e podem ocorrer sangramentos gastrintestinais sérios.
Diagnóstico da CID
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De forma a realizar o diagnóstico desta patologia é necessário realizar exames médicos, nomeadamente colheita de sangue para avaliar a contagem de plaquetas, o tempo de protrombina (TP), o tempo de protrombina parcialmente ativado (TPPA), para realizar doseamento de fibrogénio plasmático e D-dímeros plasmáticos.
Normalmente, a suspeita de coagulação intravascular disseminada ocorre em pacientes com sangramento inexplicável ou tromboembolia venosa, especialmente se existir condição predisponente.
Na CID de evolução lenta:
- Trombocitopenia leve;
- TP e TPPA normais a discretamente alargados (os resultados costumam ser registrados como INR);
- Nível de fibrinogénio normal ou moderadamente reduzido;
- Aumento dos níveis plasmáticos de D-dímeros.
Na CID de evolução rápida:
- Trombocitopenia mais grave;
- TP e TPPA mais alargados;
- Nível de fibrinogénio plasmático em declínio rápido;
- Alto nível plasmático de D-dímeros.
Tratamento da CID
- Tratamento da causa
- Terapia de reposição:
- Plaquetas, crioprecipitado, plasma fresco congelado
- Heparina, se necessário.
- Terapia de reposição:
Resumo…
A coagulação intravascular disseminada (CID) envolve geração anormal e excessiva de trombina e fibrina no sangue circulante. Durante o processo, ocorre aumento da agregação plaquetária e consumo de fatores de coagulação. CID que se desenvolve lentamente (por semanas ou meses) causa manifestações primariamente trombótica venosa e embólica; CID que se desenvolve rápido (em horas ou dias) ocasiona primariamente sangramento. O diagnóstico da CID grave que evolui rapidamente com trombocitopenia, TP e TPPA elevados, níveis séricos aumentados de D-dímeros e diminuição nos níveis de fibrinogénio. O tratamento é feito pela correção da causa e reposição de plaquetas, fatores da coagulação (no plasma fresco congelado) e fibrinogénio (no crioprecipitado) para controlar o sangramento grave. A heparina é utilizada como terapia (ou profilaxia) em pacientes que desenvolvem CID lentamente e apresentam (ou estão em risco de) tromboembolia venosa.