
Tiróide. Imagem de WebMD.
A tiróide é uma glândula endócrina bi-lobada situada na zona do pescoço. A sua principal função é a produção das hormonas tiroideias: a triiodotironina (T3; hormona ativa) e a tiroxina (T4; pró-hormona, convertida posteriormente a T3), que regulam ações metabólicas. Esta glândula também liberta calcitonina, que regula os níveis do ião cálcio sanguíneo (1). No sangue, a T3 a T4 são transportadas pela TBG (thyroxin-binding globulin).
A tiróide é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise: o hipotálamo produz TRH (thyrotrophin-releasing hormone) que, atuando na hipófise, leva à libertação de TSH (thyroid-stimulating hormone). A TSH, por sua vez, estimula a tiróide a produzir e libertar a T4 e T3 (1).
As doenças da tiróide são as doenças endócrinas mais prevalentes do mundo, afetando pessoas de ambos os sexos e idades (1). O hipotiroidismo, em particular, caracteriza-se por uma produção anormalmente baixa de hormonas tiroideias. O hipotiroidismo pode ser primário, quando há uma disfunção da própria glândula tiroideia, ou secundário, quando há uma disfunção do eixo hipotálamo-hipófise que se traduz numa subestimulação da tiróide e, portanto, numa baixa produção de hormonas tiroideias.
A causa mais comum de hipotiroidismo é a deficiência em iodo, prevalente em várias áreas do globo (1, 2). Nos países industrializados, no entanto, a causa mais comum é o hipotiroidismo de causa autoimune associado com bócio, também designado por doença de Hashimoto. Após o parto, as mulheres puérperas podem sofrer de hipotiroidismo transiente. O hipotiroidismo também pode ser causado por fármacos ou após a irradiação e/ou remoção da tiróide (em casos de neoplasia) (1). O hipotiroidismo congénito é uma doença rara (em Portugal, afeta 1 em cada 3200 recém-nascidos) e detetada pelo Programa de Diagnóstico Precoce (3).
Os sintomas do hipotiroidismo são bastante difusos e generalizados, resultantes do baixo metabolismo. Os doentes queixam-se de cansaço, letargia e fraqueza muscular, intolerância ao frio, aumento de peso, prisão de ventre, perdas de memória, depressão, voz rouca e, nas mulheres, irregularidades menstruais. Os sinais são, geralmente, edema periorbital (olhos inchados), mãos frias, pele e cabelo secos, reflexos lentos, bócio (aumento do volume do pescoço) e, em casos extremos, perdas de consciência. No caso do hipotiroidismo por deficiência em iodo, a grande preocupação é a ocorrência de défices cognitivos, especialmente em idade pediátrica, já que este elemento é essencial para a boa formação e manutenção do sistema nervoso central (2). Como estes sintomas são bastante generalizados, o diagnóstico tem de ser sempre confirmado por testes bioquímicos. Para além disso, ao contrário dos doentes que realizaram tiroidectomias, os doentes com hipotiroidismo autoimune desenvolvem os sintomas ao longo de um período de tempo extenso, o que dificulta o diagnóstico (1).
A gravidez é um caso particular, já que para que haja um correto e saudável desenvolvimento do feto, o aporte de T4 a este é de vital importância (1). Assim, as grávidas precisam não só de ter um aporte de iodo na dieta adequado, como uma adaptação da tiróide ao novo estado da mulher, para que a produção de hormonas tiroideias seja suficiente para si e para o feto (4). Idealmente, o diagnóstico de hipotiroidismo deve ser feito nas consultas pré-concepcionais. Se, no entanto, isto não for possível, a grávida deve ser diagnosticada com a máxima urgência.
Um médico que queira confirmar o diagnóstico de hipotiroidismo primário deve verificar que os níveis de TSH estão elevados e os de T4 livre estão baixos. No caso da doença de Hashimoto, há a presença de anticorpos anti-peroxidade da tiróide (anti-TPO) em mais de 90% dos casos. Nos doentes com hipotiroidismo secundário, os níveis de T4 livre estão baixos e os de TSH estão normais ou baixos (1).
O tratamento do hipotiroidismo passa pela administração de T4 através de fármacos, como a levotiroxina. A introdução de alimentos com suplementação de iodo é de extrema importância, não só para crianças e jovens, mas também para adultos. A não ser que exista sal iodado, a maior parte do iodo ingerido vem de alimentos lácteos. No entanto, devido a restrições no fornecimento de iodo a gado bovino, os níveis de iodo no leite e derivados tem vindo a diminuir. Em Portugal, os níveis de iodo da população em geral são adequados (2).
- Fox T, Brooke A, Vaidya B. Endocrinology. 1 ed: JP MEDICAL PUBLISHERS; 2015.
- Zimmermann MB, Boelaert K. Iodine deficiency and thyroid disorders. The Lancet Diabetes & Endocrinology. 2015;3(4):286-95.
- Centro de Saúde Pública Dr. Gonçalves Ferreira – Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. Hipotiroidismo Congénito [29-02-2009]. Available from: http://www.diagnosticoprecoce.org/doencas/hipotiroidismocongenito.htm.
- Krassas G, Karras SN, Pontikides N. Thyroid diseases during pregnancy: A number of important issues. Hormones. 2015;14(1):59-69.