Na semana passada, a Internet estava repleta de notícias acerca de um objecto misterioso a orbitar em torno de uma estrela que se encontra a 1500 anos-luz e que está a formar uma sombra gigantesca. Sem a existência de explicação para o que este novo objecto poderá ser, um cientista sugeriu a possibilidade remota de se tratar de um objecto artificial, feito por extraterrestres.
“Alienígenas devem ser sempre a última hipótese a ser considerada, mas isto parece ser algo que se espera que uma civilização extraterrestre possa construir” disse Jason Wright, astrofísico da Universidade do Estado da Pensilvânia, para a revista The Atlantic. Wright não estava diretamente envolvido no estudo, que fora publicado em Arxiv, mas fez os seus comentários depois de discutir as descobertas com o autor principal do artigo, Tabetha Boyajian.
Wright esclareceu os seus comentários e disse que uma teoria como a que sugerira é extremamente (enfatizando o “extremamente”) pouco provável. Ainda assim, é intrigante – nem que seja só para incitar a discussão sobre o que existe no nosso Universo. Afinal de contas, existem biliões de planetas na nossa galáxia, sendo esta uma dos milhares de milhões de galáxias presentes no Universo conhecido. Parece pouco provável que sejamos o único planeta com vida, no entanto ainda é um mistério não termos encontrado, até agora, nenhuma outra forma de vida inteligente – conhecido como o Paradoxo de Fermi.
A estrela em questão é a KIC 8462852, uma estrela antiga cerca de 1,5 vezes maior que o Sol. Usando o telescópio Kepler, uma equipa de astrónomos descobriu que a luz desta estrela diminuíra até 20% em diversas ocasiões devido à órbita de um objecto de grandes dimensões que deverá ser até cerca de metade do tamanho da estrela. Além disso, estas variações na luz medida ocorrem de forma aleatória ao longo dos 1600 dias de observação.
Devido à idade da estrela em questão, este objecto deve ser relativamente recente, ou então já teria sido consumido pela gravidade da estrela. O objecto não pode ser uma estrela, dado que não emite luz e não é circular. É também pouco provável ser um planeta, dada a sua órbita irregular. Então de que é que se trata?
No artigo, o autor sugere que se trata de detritos resultantes da fragmentação de cometas. Porém, seria espectável que isto produzisse grandes quantidades de radiação infravermelha resultante da dispersão de pó em torno da estrela, algo que não se observou. Tudo isto levou Wright a sugerir a hipótese mais remota possível – este fenómeno poderá ser resultado de uma civilização alienígena, mais especificamente, uma Esfera de Dyson.

Esfera de Dyson
Uma esfera de Dyson é uma estrutura que captura a energia de uma estrela para consumo por parte de uma civilização, de forma similar a um painel solar mas a uma escala massiva. Seria composta por centenas de milhares material aeroespacial, muitas vezes referido como um enxame Dyson, que seria, teoricamente, grande o suficiente para bloquear uma porção significante da luz da estrela.
Estima-se que à medida que uma civilização se torna cada vez mais avançada, esta requereria cada vez energia para prosperar. Alguns consideram uma esfera de Dyson como a melhor forma para arranjar a energia necessária, classificando essa civilização como uma civilização de tipo II na Escala de Kardashev (actualmente, nós encontramo-nos a 0,73). No entanto, um estudo diferente, voltado para a procura de tais estruturas, não mostrou resultados produtivos.
De facto, se se tratasse de uma esfera de Dyson, haveria produção de grandes quantidades de radiação infravermelha, algo não observável neste momento. Os investigadores estão a planear usar telescópios para observar a estrela em maior detalhe e para ver se está a originar algum sinal estranho. Há uma outra possibilidade para a inexistência de infravermelhos: a esfera de Dyson pode pertencer a uma civilização que agora se encontra extinta, ou que migrara para outro local, deixando-a não operacional, a orbitar em torno da estrela e a bloquear a sua luz.
Talvez se trate de outro tipo de estrutura alienígena. Esta hipótese motivou o Instituto SETI (Procura de Inteligência Extraterrestre) para fazer uma observação mais detalhada da estrela com o telescópio Allen. Resta-nos agora esperar pelos resultados.
No entanto, é importante de se reiterar que tudo isto se trata de hipóteses muito pouco prováveis. Especulações similares já foram feitas no passado, quando os pulsares – estrelas de neutrões que giram a grandes velocidades – foram descobertos e tomados como possíveis sinais de inteligência artificial. A sua existência nunca tinha sido proposta e, talvez, esta descoberta seja também um fenómeno natural.
Mas, mesmo que seja apenas um conjunto de cometas, ou outro fenómeno natural qualquer, é muito provável que, mais cedo ou mais tarde, encontraremos algum sinal de inteligência extraterrestre. Senão, e de acordo com o paradoxo de Fermi, onde estarão os extraterrestres?
Fonte: YFLScience